Nossas casas, com muito mais frequência do que queremos, estão cheias de objetos inúteis e sem sentido que, em vez de tornar o ambiente mais agradável, o tornam pesado e oprimente.
Com o tempo, aprendemos que quanto mais coisas temos, mais precisamos de tempo, recursos e energia para gerenciá-las e isso acaba sendo estressante.
Então, se temos essa consciência, por que temos tanta dificuldade para jogar coisas fora? Por que não os excluímos diretamente sem pensar nisso?
Para muitos pesquisadores e estudiosos do fenômeno do acúmulo, ele ocorre porque para a maioria das pessoas o fato de possuir objetos e bens materiais em geral está ligado à segurança e isso causa uma sensação de bem-estar que, mesmo sendo passageira, faz com que elas desejem ter sempre mais e mais. Por esse motivo, as pessoas continuam desejando e comprando coisas novas continuamente, mesmo que não seja necessário.
Portanto, o ato de jogar algo é visto como sinônimo de desperdício e perda, especialmente quando se trata de eliminar o que tem um valor sentimental, e isso traz um forte sentimento de culpa.
E é aí que surge o grande conflito interior. Se, por um lado, estamos conscientes de que ter muito de tudo gera acúmulo, caos e confusão, por outro lado, nunca queremos jogar nada fora. Então, como superar a barreira da culpa e começar a se livrar do supérfluo?
Precisamos limitar a proliferação de objetos e deixá-los ir, entre outras coisas, eliminar o supérfluo é uma maneira de exercitar o desapego das coisas. E, ao fazê-lo, criamos o hábito de não ter nada em casa que não seja útil ou que não tenha um significado tão forte para nós que valha a pena manter.
Antes de mais nada, quero enfatizar que este post não é voltado para aqueles que têm um real distúrbio patológico de acúmulo compulsivo, ou seja, a disposofobia, porque nesse caso é necessária uma abordagem muito mais complexa e terapeutica. Se esse è o seu caso, saiba que existe tratamento, portanto procure ajuda e seja seguido por um especialista. Todos os conselhos dados nesse post, são para quem tem um pouco de dificuldade em eliminar os próprios pertences em excesso, mas não conhece um método para fazer isso, e gostaria de aprender como colocar em pratica essa maravilhosa técnica conhecida como Decluttering.
O decluttering está intimamente relacionado aos conceitos de ordem, organização e minimalismo. E como não há reorganização sem que eliminemos o supérfluo, antes de iniciar esse processo, é apropriado fazer algumas perguntas a respeito de qualquer objeto que você deseja eliminar. Tente começar com as seguintes perguntas:
1. É realmente útil ou necessário?
2. Funciona corretamente?
3. A quantidade é suficiente?
4. Está dentro do prazo de validade?
5. Tem algum significado real para mim?
6. Isso me entusiasma e me deixa de bom humor?
7. E usado com frequência?
Se a resposta para todas essas perguntas for “SIM”, significa que realmente vale a pena conservar consigo. Caso contrário, se a resposta a todas essas perguntas for “NÃO”, é apropriado refletir sobre o que precisa ser feito, tomar decisões e agir. Eliminar o supérfluo pode não ser fácil ou agradável. Por esse motivo, antes de arregaçar as mangas e agir, você precisa estar ciente do que está fazendo e do resultado que deseja obter. Essa consciência é fundamental, porque esse processo exige, não apenas boa vontade e determinação, mas muitas vezes requer esforço físico e mental também. Então, você precisa ter a abordagem correta. Mas podemos simplificar nossas vidas seguindo alguns critérios e uma vez estabelecidas as regras e superada a questão psicológica e emocional, todo o resto será muito mais fácil, porque seremos mais motivados e as chances de concluir o trabalho serão muito maiores.
Antes de qualquer coisa, você precisa eliminar o mal pela raiz.Trabalhar na prevenção é a principal prioridade. Isso significa adotar um estilo de vida mais minimalista e focado em salvar e proteger o meio ambiente. Essa é uma meta que pode ser alcançada simplesmente evitando de comprar o supérfluo ou planejando as compras, como segue:
- Compre apenas o indispensável
- Pense mais antes de comprar qualquer coisa, evitando fazê-lo por impulso ou baseado apenas na emoção
- Desenvolva o hábito de fazer listas, tanto do supermercado para fazer compras mais direcionadas, quanto wish lists (listas de desejos) a serem compartilhadas com amigos e parentes, para que presentes sejam realmente úteis
- Faça escolhas consciêntes, pensando também no meio ambiente para reduzir a produção de lixo
- Acostume-se a levar consigo uma quantia limitada de dinheiro e se não consegue se conter deixe o cartão de crédito em casa
- Evite shoppings e ruas comerciais de tempos em tempos.
No entanto, apesar de podermos planejar e estar cientes de nossas ações e escolhas, é óbvio que sempre haverá algo a ser eliminado, e é exatamente por esse motivo que a prevenção nos ajuda a otimizar recursos, tempo e energia. Mas talvez você esteja se perguntando: na prática, o que exatamente deve ser feito e por onde começar?
Então proponho um percurso de 8 dias, que será o período ideal para o desenvolvimento do seu projeto de forma gradual e sem estresse. Dito isto, ao trabalho!
DIA N ° 1 – PREPARAR AS FERRAMENTAS ÚTEIS PARA SIMPLIFICAR O TRABALHO
Para poder atingir seu objetivo, é importante preparar o ambiente e garantir que você tenha tudo o que precisa para realizar o seu trabalho ao seu alcance.
Para começar, você precisa obter recipientes ou caixas grandes e identificá-los com uma etiqueta com uma palavra que te guiará nesse processo e ajudará a executar uma ação específica em cada caso. Estas palavras são geralmente:
CONSERVAR; DOAR; VENDER; RECICLAR E ELIMINAR
• Defina como guardar tudo, otimize os recursos usando o que você já possui antes de comprar qualquer acessório ou organizador extra.
DIA N ° 2 – COMEÇANDO DO MAIS FÁCIL
Começar a eliminar as coisas às quais estamos menos apegados do ponto de vista emocional e, por fim, deixar os bens de valor sentimental ajuda a manter um bom ritmo de trabalho; caso contrário, você corre o risco de perder muito tempo na tomada de decisões e se sentir frustrada, imediatamente, por não ver nenhum resultado. Portanto, evite começar com coisas consideradas mais difíceis de se desfazer, como:
- Livros e revistas
- Roupas, sapatos e acessórios
- Cd, DVd, Dvx, vídeogames
- Fotos
- Objetos de valor afetivo e até econômico
- Produtos de maquiagem, higiene e limpeza
Vai por mim, deixe-os por último para quando você tiver mais confiança no método, já terá visto alguns resultados e terá mais motivação. A partir de então, será mais fácil lidar com eles. Em vez disso, você pode começar com a seguinte lista:
- Lixo
- Folhetos de propaganda
- Catálogos
- Brindes e amostras grátis
- Caixas e frascos vazios
- Sacolas de compras
- Recibos
E tudo o que não tem valor emocional para você.
DIA N ° 3 – AVALIAR A SITUAÇÃO
Nesse ponto, aumentamos o nível de dificuldade e passamos aos objetos mais difíceis de eliminar. Agrupe todas as coisas da mesma categoria espalhadas pela casa em um só lugar e comece a analisar uma a uma. Isso cria um forte impacto visual, ajuda a entender a quantidade de objetos que você realmente possui e a tomar consciência das reais dimensões do problema. Este é o grande segredo da famosa Marie Kondo. Seu método é conhecido ao redor do mundo porque funciona, e, apesar de desafiador, é muito simples de entender e fácil de colocar em prática. Esse método também vai ajudá-la a ter concentração e determinação suficientes para decidir claramente o que eliminar.
DIA N ° 4 – TOMAR DECISÕES E AGIR
Lembre-se de que seu tempo e energia são os recursos mais preciosos que você tem e são limitados, especialmente o tempo porque ele nunca volta; portanto, não perca tempo pensando demais. Aproveite a oportunidade de aprender a distinguir entre o que é inútil e o que vale a pena manter. Eis algumas dicas de como proceder:
• Racionalize, seja determinada e objetiva
• Evite sistemas de organização temporária
• Pegue um objeto de cada vez e decida em segundos o que fazer seguindo o critério dos recipientes que vimos anteriormente
• E depois que você colocar tudo nos devidos recipientes, decida o que CONSERVAR; DOAR; VENDER; RECICLAR E ELIMINAR
Essa decisão é muito pessoal, mas se você tiver dúvidas e quiser sugestões sobre o assunto, abro um parêntese para ajudá-la a classificar cada objeto antes de tomar uma decisão. Caso contrário, se você já tiver as idéias bem claras, poderá pular imediatamente para o DIA N ° 5.
O QUE GUARDAR?
- Somente coisas que são úteis e em uso, porque existem coisas que são úteis, mas nunca as usamos; portanto, considere a possibilidade de descartá-las
- Somente as coisas necessárias
- Somente as coisas que funcionam
- Apenas a quantidade certa de coisas
- Somente as coisas que têm significado para você e te fazem feliz
- Somente o que você pode organizar ou arrumar, ou seja, apenas o que você tem espaço para armazenar pode ser mantido.
O QUE DOAR?
- Coisas novas que você nunca usou ou em boas condições e que não usa mais;
- Coisas em excesso;
- Coisas que não estão de acordo com o seu gosto, mas que poderiam agradar ou ser úteis a outras pessoas
O QUE VENDER?
- Objetos antigos com valor histórico
- Móveis em bom estado
- Itens de marca, de design novos ou usados que você não precisa mais, mas que têm um certo valor e que você sabe que podem ser do interesse de alguém
O QUE RECICLAR?
- Tudo o que se desgastou com o tempo ou está quebrado, mas que de alguma forma é conveniente, possível de ser reparado e você desejafazer isso;
- Tudo o que você usa e ainda está em boas condições, mas precisa de manutenção
- Tudo o que você gosta e gostaria de renovar o visual, dar vida nova ou reutilizar de uma maneira diferente.
O QUE ELIMINAR?
- Simples, tudo o que não se enquadra em nenhuma das categorias anteriores, ou seja, objetos inúteis, obsoletos, vencidos ou quebrados que você não deseja manter, não é apropriado para ser doado, vendido ou reciclado.
DIA N ° 5 – PEÇA AJUDA
Não há necessidade de pedir imediatamente a ajuda de alguém para organizar. Mas, há alguns casos em que é útil obter ajuda, como por exemplo:
- No caso de o processo se tornar muito complexo e cansativo;
- Requerer esforço físico para mover alguns móveis ou objetos um pouco mais pesados;
- Caso acredite ser útil procurar aconselhamento de um amigo ou parente que o ajude no processo de tomada de decisão;
- Ou nos casos em que o processo também diz respeito a outro membro da família com quem você compartilha o ambiente ou tem alguns objetos em comum e você precisa dividir as tarefas
DIA Nº 6. ESTABELEÇA LIMITES
- Estabeleça espaços onde guardar coisas ou simplesmente encontre uma posição para cada coisa
- Entenda quanto de cada coisa você precisa manter
- Estabeleça critérios para saber quando é a hora de jogar fora (por exemplo: observe um critério de tempo, espaço, quantidade);
- Decida com que frequência repetir a organização (todos os dias, uma vez por semana, uma vez por mês, etc.)
DIA N ° 7 – ENFRENTE OS OBSTÁCULOS E OS SUPERE
E se por acaso mudar de idéia? Nenhum problema. É preciso estar ciente de que cada um tem seu próprio tempo. Se uma pessoa não está pronta para se livrar de algo, é contraproducente forçar uma situação. Nesse caso, você pode mover objetos que são resultado de indecisão em um armário, mas eu recomendo que você determine um tempo para revisar tudo e depois, no tempo certo, decidir se deve eliminar ou não. Embora esse método não seja recomendado, simplesmente porque não resolve definitivamente o problema, pode ser uma opção a considerar em caso de indecisão, porque deixar de lado, por um período de seis meses ou um ano, um objeto que se acredita ainda útil antes de jogar fora pode ser uma maneira de clarear as idéias. E se, no final, você chegar à conclusão de que não precisou desse objeto por um longo período de tempo, isso significa que você, muito provavelmente, não precisará dele no futuro e talvez seja o caso de eliminá-lo definitivamente.
DIA N ° 8. MANUTENÇÃO •
- Não procrastine
- De vez em quaodo, tome tempo para identificar e eliminar o supérfluo, evitando assim o acúmulo (20 minutos por dia podem ser suficientes)
- Respeite o espaço disponível em casa para repor as coisas e, quando estiverem cheios, elimine algo
- Fique de olho na quantidade de itens em casa para evitar o acúmulo
- Crie o hábito de eliminar algo quando você adquirir objetos novos da mesma categoria e com a mesma função
O Decluttering é uma atividade que oferece imensos benefícios físicos e mentais. Estar convencido disso desde o início é fundamental para manter a motivação e obter os resultados desejados. No Japão, essa prática é conhecida como Dan-Sha-Ri, ou seja, a arte de se desfazer. Sem contar que é objeto de estudo universitário e para muitos japoneses, eliminar o supérfluo é um estilo de vida, é libertador e ajuda a:
- Aprimorar o que somos
- Valorizar e ser gratos pelo que temos
- Priorizar as relações humanas e melhorar as relações interpessoais
- Aproveitar o espaço e, acima de tudo, o tempo extra disponível
- Otimizar o tempo gasto em limpeza e arrumação
- Viver em um ambiente mais saudável e limpo
- Economizar dinheiro e energia
- Fazer o bem dando algo que não precisamos mais e que possa ser útil para outra pessoa
- Ter clareza de idéias, ter mais concentração e melhorar a produtividade
- Aprender que é possível viver bem, de uma maneira mais leve, mais simples e mais satisfatória e, portanto, ser feliz mesmo possuindo menos
Ufff, foi um longo percurso, não é verdade? É realmente um tópico fascinante e eu poderia continuar por horas, mas no momento diria que é suficiente. Espero que este post possa te ajudar a se livrar do supérfluo, desfrutar de ambientes mais agradáveis e começar a ter mais qualidade de vida.
Aproveito para finalizar com a frase de Fumio Sasaki, escritor japonês: “A vida é muito curta. É um desperdício abreviar o tempo que temos para perseguir as coisas “.
Obrigada por me seguir até aqui e ao próximo post.
Ana Dias
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