A cultura da pressa
A sociedade de consumo na qual vivemos nos impõe ritmos de vida e de trabalho tão intensos que estamos sempre com pressa. Como consequência, esse ritmo acelerado gera tensão e estresse influindo também no ritmo que adotamos e vivemos dentro do ambiente doméstico.
Porém redescobrir o prazer de estar em casa e viver de maneira mais serena só é possível através de uma inversão de rota chamada slow life ou slow living, que em portugues significa vida lenta.
Provavelmente você já ouviu falar nesse termo e mesmo que ainda não o conheça, tenho certeza que já viveu por um período ou está vivendo esse estilo de vida nesse exato momento, ainda que inconscientemente. Deixa eu te explicar melhor.
Em 2020, por causa da pandemia, o mundo infelizmente parou e com ele, exceções a parte claro, todos nós. De repente nos vimos diante de uma ameaça global, privados da liberdade de ir e vir e do contato social, por isso o ano que se passou, sem dúvida, deixará marcas profundamente dolorosas e dificieis de esquecer. Por outro lado, experiências desafiadoras sempre nos ensinam algo novo e nos tornam mais fortes, por isso acredito que o ano de 2020 também tenha nos deixado muitas lições positivas.
Foi exatamente por causa das circunstâncias adversas que nos trouxe o ano passado que mais do que nunca pudemos perceber o valor das pequenas coisas, do quanto nos faz falta a companhia das pessoas que amamos, e de como poder abraçá-los e desfrutar de momentos agradáveis com elas é de fundamental importância para o nosso bem-estar físico e emocional.
O lockdown nos obrigou a estarmos enclausurados em casa, portanto foi um período durante o qual vivemos mais intensamente nossos lares, redescobrimos ambientes esquecidos e percebemos que precisávamos repensar a função de alguns deles ou mesmo de adequá-los às novas exigências e mudanças de hábitos que nos foram impostas, por exemplo, pelo smartworking.
O isolamento nos forçou a diminuir o ritmo, nos deixou mais sensíveis à dor do próximo e nos ajudou entrar em contato profundo com nós mesmos e com o nosso propósito, o que nos levou a retomamos alguns bons hábitos que há algum tempo havíamos perdido, como cuidar mais dos nossos idosos, passar mais tempo com filhos e parentes próximos, se engajar em atividades de voluntariado, realizar nossas atividades quotidianas sem pressa, dedicarmos mais tempo a nos mesmos, cuidar do nosso corpo, dormir melhor, nos dedicarmos a um hobby, preparar com calma nossos alimentos e termos uma alimentação mais saudável.
Enfim, o ano que se passou, de certa forma, nos ajudou a redefinir nossas prioridades pois nos foi dada uma grande oportunidade de desacelerar e reavaliar o que realmente é importante para cada um de nós. E foi assim que, meio sem querer e sem nos darmos conta, começamos a conviver mais de perto com o conceito de Slow life ou slow living. Essa vida lenta, que nada tem a ver com preguiça ou improdutividade, mas que significa uma abordagem mais tranquila dos aspectos que se referem a nossa vida quotidiana. Se trata de um estilo de vida mais relaxado que nos permite viver melhor e com mais qualidade em contraposição a um estilo de vida materialista, consumista, frenético e estressante.
E eis aqui uma das lições mais importantes que 2020 nos deixou: que é preciso mais do que nunca desacelerar.
Não se trata de modismo passageiro ou somente de uma tendência, pois o slow life não é só um conceito, porque significa muito mais que simplesmente diminuir o ritmo, é uma filosofia de vida e uma questão de sobrevivência.
Ao adotarmos o slow life como estilo de vida, talvez até façamos menos coisas é verdade, porém passamos a fazer melhor as mesmas coisas e de forma mais prazerosa, respeitando o ritmo natural da vida e do nosso corpo.
Em uma visão mais completa dessa filosofia, o termo slow (lento) é usado como uma sigla para mostrar diferentes questões e benefícios que um ritmo de vida mais consciente e sereno nos traz.
Vejamos então o significado de cada letra da sigla no contexto.
S – se refere a Sustentável – significa ter um impacto limitado, ou seja, agir de modo que nossas escolhas e os nossos hábitos causem o mínimo impacto possível sobre meio ambiente
L – se refere a Local – significando que melhor seria se utilizássemos, de preferência, materiais e produtos produzidos nas proximidades geográficas de onde vivemos
O – se refere a Orgânico – o que significa evitar de consumir produtos que foram geneticamente modificados ou produzidos em massa
W – do inglês Whole que se refere a integro – o que significa que a melhor opção seria consumir alimentos não processados
Por isso é tão importante entender que desacelerar é viver de uma forma mais equilibrada, prazerosa e gratificante. Significa aproveita a vida, respeitando não só a nos mesmos, mas as necessidades do próximo e a exigência ecológica de salvaguardar o planeta, utilizando os recursos que temos a disposição de maneira consciente, desfrutando intensamente e sem pressa de cada momento que, como um milagre, nos é concedido. O que não nos impede de ter acesso a bens e serviços e nem mesmo de usufruir da comodidade e praticidade que o avanço tecnológico nos proporciona.
Estendendo a cultura do slow life para o slow home
Como 2021 está só começando, nada melhor do que aproveitar o entusiamo natural do início do ano, que nos enche de esperança e de desejo de mudança, para trazer o slow life para dentro de nossas casas e transformá-las em slow home.
Porque não aproveitar o clima positivo de recomeço para adotar alguns hábitos que com certeza farão toda a diferença nas nossas vidas e casas?
O início do ano é o momento ideal não só para reunir a família compartilhar coisas boas, cultivar valores como compreensão, respeito e colaboração mútuos, mas também para fazer aquela limpeza e organização geral em casa, pois geralmente coincide com o período das férias quando temos mais tempo e energia a disposição.
Manter uma casa limpa e organizada sozinhos é, sem dúvida, uma atividade trabalhosa. Porém, é exatamente aqui que o slow home vem para nos socorrer, pois nos encoraja a compartilhar as responsabilidades dentro de casa com os demais membros da família. Dividir as atividades com certeza vai tornar a tarefa muito mais fácil, além de ser um modo para simplifica as nossas vidas, viver melhor, sermos mais produtivos, melhor gerenciar o tempo e ter clareza sobre os nossos sonhos, objetivos e projetos para o futuro.
Pensando em tudo isso, preparei uma lista com algumas das principais atitudes que vão ajudar você a colocar em prática o slow home na sua própria casa.
- Elimine o supérfluo
- Simplifique sua vida e programe sua rotina diária das atividades domésticas, para poder encaixar cada coisa em momentos diferentes da jornada e assim diminuir o ritmo
- Organize sua agenda e seus espaços para melhor gerenciar seu tempo, ser mais produtivo e diminuir o estresse
- Faça uma coisa de cada vez, cada coisa no momento certo, com calma, no seu ritmo e sem pressa
- Pense na atmosfera que deseja criar, antes de projetar sua casa ou de renovar a decoração, ou seja, como você vai querer se sentir dentro dela, qual a função dos espaços e que tipo de atividades vai desenvolver dentro de cada ambiente.
- Crie espaços aconchegantes dedicados a momentos de reflexão, ao descanso e laser
- Tenha mais contato com a natureza trazendo-a para dentro de casa
- Evite o consumismo. Compre coisas com menos frequência e quando comprar materiais de construção, móveis e acessórios de decoração, preste atenção ao processo de produção, dê preferência aqueles produtos realizados com materiais naturais, reciclados ou biodegradáveis. Escolha levar pra casa objetos duráveis, práticos e funcionais, mas sobretudo que reflitam a sua personalidade e que sejam realmente necessários, não só porque custam pouco ou estão em promoção
- Evite comprar alimentos geneticamente modificados, escolha produtos não processados, livres de conservantes, frescos e produzidos próximo da sua casa
- Seja consciente e responsável ao utilizar os recursos naturais
Adotar um estilo de vida mais tranquilo, seja no ambiente de trabalho, seja em casa, não só nos ajuda a tomarmos o tempo necessário para realizar nossas atividades diárias sem pressa e com calma, transformando a nossa casa em um lugar acolhedor onde todos querermos estar e desfrutar de tempo em companhia das pessoas que amamos, mas é também uma ótima oportunidade para organizar nossos pensamentos e emoções.
Contribuir para que nossas casas sejam ambientes melhores e mais acolhedores onde viver, sobretudo quando o mundo la fora se torna cada vez mais hostil, é um dever de cada membro da família. Se cada um faz a sua parte com compromisso e dedicação estará colaborando para o bem-estar geral da família como um todo, de forma que todos possam usufruir de um ambiente doméstico mais agradável e saudável, mas sobretudo que possam desfrutar de um estilo de vida mais sereno e relaxado. Pois a qualidade do ambiente no qual vivemos é de fundamental importância para a nossa saúde psicofísica.
Lembre-se que estamos interligados e quando cuidamos de nos mesmo e uns dos outros, a partir das nossas casas, esse cuidado se reflete na sociedade como um todo.
Por isso, espero que no ano que se inicia, você possa cuidar e receber o cuidado dos seus entes queridos, que possa desfrutar junto com a sua família dos benefícios de um estilo de vida mais leve e de um lar muito mais saudável.
Te desejo de coração o melhor 2021 que você possa ter!
Um abraço e até o próximo post.
Ana Dias
Comentários